Esqueça a conhecida e detestada banda de Pop Metal (e Hair Metal) dos anos 90 p/cá. Muito antes disto, existiu uma outra encarnação do Def Leppard que, para muitos, pode ser considerada a banda definitiva do Hard Rock oitentista. Sério? Veja bem, muitas outras tocaram mais pesado e soaram mais perigosas que o quinteto de Sheffield, Inglaterra, mas penso que poucas conseguiram capturar o espírito daqueles tempos tão bem.
Emergindo no final dos anos 70 como parte da New Wave Of British Heavy Metal (NWOBHM), o Def Leppard, na realidade, trouxe um som diferente de seus pares, com clara herança do Glam Rock (pense T-Rex, Mott The Hoople e Queen) e do Led Zeppelin. Ao disparar seus riffs pesados e enfatizar melodias, o Def Leppard criou um som "crossover" (que faria enorme sucesso na primeira metade dos anos 80, impulsionado pela exposição na MTV). Junte-se a "boa pinta" de seus componentes e uma série de canções realmente muito boas (e vídeos inovadores), estava pavimentada a estrada para o sucesso (o que, de fato, aconteceu até 1987, quando uma série de tragédias passaram a se abater sobre o grupo).
As origens do Def Leppard estão nos adolescentes Rick Savage (baixo) e Pete Willis (guitarra), que montaram uma banda, em 1977. O vocalista Joe Elliott, um fã fanático de Mott The Hoople e o T-Rex, ingressou alguns meses depois trazendo o nome "Deaf Leopard" (trad.: Leopardo Surdo) consigo. O trio passou a tocar nos pubs locais de Sheffield e, dentro do ano seguinte, adicionaram outro guitarrista, Steve Clark, e um baterista contratado. Esta formação gravou um EP ("Getcha Rocks Off", já com a mudança na pronúncia do nome), no final de 1978, lançado por selo próprio, o Bludgeon Riffola. Rapidamente este EP caiu no boca-a-boca levando-os a uma exposição na BBC. Todos na banda ainda eram adolescentes. Na sequência, Rick Allen ingressaria como baterista definitivo, época em que o Def Leppard passou a ser adorado pelos semanários ingleses. Logo, eles assinaram com o empresário do AC/DC, Peter Mensch, que os ajudou a conseguir um contrato com a Mercury Records.
1980 | ON THROUGH THE NIGHT
O álbum de estreia, foi lançado em mar/1980 e tornou-se instantaneamente um sucesso no Reino Unido, ganhando significativa visibilidade nos EUA (onde chegou ao nº. 51 das paradas). Nos doze meses seguintes, o Def Leppard fez turnês ininterruptas pela Inglaterra e EUA, abrindo para gente do naipe de Ozzy Osbourne, Sammy Hagar e Judas Priest.
O disco estabeleceu-os com uma das bandas líderes da NWOBHM, com um som coeso, ataque controlado, duas guitarras solo, mas diferente de seus parças de movimento (mais interessados em temas de fantasia, às vezes assustadores, muitas vezes até góticos) explorando letras do cotidiano (estórias comuns de luta do trabalhador comum) tocadas com surpreendentes guitarras (totalmente Heavy e que levou parte da imprensa a considerá-los, na época, como o novo "Led Zeppelin") e influência aberta do Thin Lizzy.
Era o Def Leppard metal (sem o futuro Hair Pop), esbanjando convicção em canções realmente matadoras: "Wasted" era puro NWOBHM, "Answer To The Master" lembrava Iron Maiden, "Rocks Off" esbanjava energia juvenil e "Overture" trazia elementos do Rush. Para mim, as melhores eram "Rock Brigade" (descendo a burdunha, logo na abertura), "When The Walls Came Tumbling Down" (sensacional) e a linda "Sorrow Is A Woman".
02. Hello America
03. Sorrow Is A Woman
04. It Could Be You
05. Satellite
06. When The Walls Came Tumbling Down
07. Wasted
08. Rocks Off
09. It Don't Matter
10. Answer To The Master
11. Overture
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1981 | HIGH 'N' DRY
O segundo álbum, lançado em jul/1981, continuou na mesma linha e seria o último com Pete Willis nas guitarras (ele foi demitido por problemas com alcoolismo). O disco, produzido pelo midas John "Mutt" Lange, levou a banda ao primeiro disco de platina nos EUA, muito em função do maciço sucesso radiofônico da power ballad "Bringin' On The Heartbreak" (totalmente descaralhante, na melhor linha "Sweet Child O'Mine").
Na verdade, "High 'N' Dry" era ainda melhor do que "On Through The Night": ritmos ainda mais rápidos, riffs arrasadores, faixas entusiásticas, guitarras muito pesadas e espertíssimas, Joe Elliott cantando demais, tudo soando grande, poderoso e perigoso, porradas inesquecíveis como "Let It Go" (faixa de abertura), "You Got Me Runnin'", a faixa-título (uma pedrada, com um dos riffs mais marcantes de toda a NWOBHM) e a maravilhosa "Lady Strange" (um hino da época).
Era o Def Leppard no topo de seu jogo e quebrando tudo.
02. Hello America
03. Sorrow Is A Woman
04. It Could Be You
05. Satellite
06. When The Walls Came Tumbling Down
07. Wasted
08. Rocks Off
09. It Don't Matter
10. Answer To The Master
11. Overture
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1983 | PYROMANIA
Já com Phil Collen nas guitarras, foi onde eles pegaram os elementos já trabalhados nos dois primeiros discos e os configuraram para o grande impacto. Não deu outra: o álbum os catapultou à estratosfera, com um sucesso arrasa-quarteirão (vendeu 10 milhões de cópias só nos EUA e os transformou numa das bandas mais populares do mundo).
Canções Hard Rock, estruturadas cheias de ganchos melódicos, tal qual hinos para serem cantados à plenos pulmões. Tudo cativante, super-bem produzido, guitarras ainda bem pesadas, mas foi onde surgiu a fórmula do famigerado Pop Metal, que ganhou força muito por causa do sucesso de "Pyromania". O foco intensificado na melodia, a excessiva exposição na MTV, a produção lustrada e desbastada (de John "Mutt" Lange), multi-camadas de harmonias vocais, sons polidos para bateria e guitarras, perfeccionismo em detalhes e o pendor para a grandiosidade criaram um monstro: o Hard Rock melódico.
"Pyromania" ainda era um grande trabalho, com energia estalando por todo lado ("Photograph", "Foolin'" e "Rock Of Ages" eram completamente fuderosas), mas com alguma perda de espontaneidade e de crueza.
02. Hello America
03. Sorrow Is A Woman
04. It Could Be You
05. Satellite
06. When The Walls Came Tumbling Down
07. Wasted
08. Rocks Off
09. It Don't Matter
10. Answer To The Master
11. Overture
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E o pior estaria para vir: Rick Allen (o baterista) perderia o braço esquerdo num acidente de carro (na noite de ano novo) e "Hysteria", o quarto álbum, de 1987, dispararia o desgraceira da fórmula Pop Metal radiofônica que infestaria o Rock até a chegada do Grunge. Steve Clark morreria de overdose, em 1991.
O Def Leppard, eternizados por seus três primeiros álbuns, nunca lançaria nada mais digno de nota.
Texto | Mural Cultural
