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quarta-feira, 6 de junho de 2018

Trapeze


Quando Glenn Hughes ingressou no Deep Purple em 1973, seu nome ficou, de imediato, famoso em todo o mundo. Mas, ao contrário de seu novo companheiro David Coverdale, que antes de responder a um anúncio da Melody Maker e entrar na banda de Ritchie Blackmore, Ian Paice e Jon Lord tinha apenas experiência com grupos desconhecidos, Hughes não era nenhum novato. O baixista e vocalista, nascido em 21 de agosto de 1952 na cidade inglesa da Cannock, já havia impressionado meio mundo com a sua passagem pelo Trapeze, uma das melhores bandas de hard rock da primeira metade dos anos setenta.

O Trapeze surgiu em março de 1969 na cidade de Wolverhampton, Inglaterra. Seus fundadores foram o vocalista e trompetista John Jones e o guitarrista e tecladista Terry Rowley, responsável pelo nome do conjunto. Os dois haviam se conhecido em uma banda chamada The Montanas. A dupla foi atrás de músicos com pensamentos parecidos com os seus, e os encontrou nas figuras do guitarrista Mel Galley e do baterista Dave Holland, além do já citado Glenn Hughes.

Após vários ensaios e um número cada vez maior de shows pelos clubes londrinos, o então quinteto assinou com a Threshold Records, criada pelo Moody Blues inicialmente para lançar apenas os álbuns do grupo e os trabalhos solos de seus integrantes, mas que acabou se transformando em um selo com catálogo próprio, subsidiado à gravadora Decca.

Em 1970 chegou às lojas o primeiro play do grupo, tendo com título apenas o nome da banda. A produção foi de John Lodge, baixista do Moody Blues. O álbum traz um hard rock calcado no blues, e apesar de ser um bom disco, passou meio batido pelo público. Logo após o lançamento, John Jones e Terry Rowley deixaram o conjunto, retornando para o Montanas, onde permaneceriam até 1978.

Reduzido a um trio, o Trapeze voltou ao estúdio para gravar o seu segundo álbum. Lançado em novembro de 1970, Medusa é bastante superior ao primeiro trabalho. Novamente produzido por John Lodge, o disco apresenta um hard rock coeso e afiado, com passagens instrumentais requintadas e de muito bom gosto, adornadas pela voz singular de Glenn Hughes, um dos maiores vocalistas da história do hard rock.

Medusa abre com "Black Cloud", faixa que apresenta uma das características marcantes do Trapeze: a alternância entre momentos mais pesados com outros mais calmos, levando o ouvinte por estradas muito bem construídas, que desembocam em trechos onde o pau como solto. Ótimo começo!

Na sequência temos um dos ápices da carreira do trio. "Jury" começa como uma balada, onde os destaques são a interpretação de Hughes e a guitarra de Galley. Após essa breve e excelente introdução mais lenta, a faixa cai em um hard clássico, mudança feita pelo antológico riff de guitarra de Mel Galley, que Glenn Hughes e Dave Holland seguem com precisão cirúrgica. Essa segunda parte da canção evolui, com Hughes cantando muito, enquanto Galley

rege os trechos instrumentais. E, no final, tudo volta para o começo, como uma viagem em loop em uma máquina do tempo. Sensacional!

O tempero funk, outra das características do Trapeze, aparece em "Your Love is Alright" e "Makes You Wanna Cry", com o embalo sendo apimentado com generosas dose de peso. Já o rock bate ponto forte em "Touch My Life", uma das melhores faixas do disco, que conta com um dos grandes riffs de toda a carreira de Galley. Mais uma vez percebe-se a variação entre momentos mais calmos e outros mais explosivos, tornando a canção muito interessante.

Uma das mais belas composições gravadas nos anos setenta vem a seguir. "Seafull" é uma espécie de blues carregado com ainda mais emoção e sentimento, onde Hughes canta como se fosse um anjo caído. As linhas vocais criadas pelo baixista e vocalista são tão lindas que chegam a doer. A parte instrumental mostra toda a sensibilidade do trio, conduzindo o ouvinte por uma odisséia regada com imagens do passado e sonhos de um futuro melhor.

O disco fecha com sua faixa-título, uma canção que não poderia ter nascido em outra época que não naquele final dos anos sessenta e início dos setenta. O belo arranjo mostra o quanto o grupo influenciou todo o hard rock subsequente. Os trechos acústicos tornam a canção ainda mais bela, revelando todo o poder da voz crua de Hughes. Um encerramento perfeito para um álbum de tão alto nível como Medusa. ... (continua)

Por | Ricardo Seelig

1970 | MEDUSA

01 | Black Cloud
02 | Jury
03 | Your Love is Alright
04 | Touch My Life
05 | Seafull
06 | Makes You Wanna Cry
07 | Medusa

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