segunda-feira, 27 de julho de 2020

Sérgio Sampaio


Diverso, genial - e mesmo assim relegado ao lado B da MPB -,
cantor e compositor sofreu com pecha de maldito.

Talvez pela profusão de grandes artistas, o Brasil se permita, em uma injustiça cruel, relegar ao lado B um compositor diverso e genial como Sérgio Sampaio, morto há exatamente 25 anos. Turrão e inquieto, Sampaio era aquele que disse “eu quero é botar o meu bloco na rua”. E botou, mas não só. Lançou, em vida, três discos sólidos e inventivos e deixou também um trabalho póstumo de qualidade reconhecida.

Mesmo assim, ficou escanteado quando o assunto era o primeiro time da MPB, marcado com a pecha de maldito, longe das listas então ditadas pelo marketing das gravadoras. O interesse pela obra do compositor se reacendeu nos últimos anos. Relançamentos em LP dos três discos dele em vida e um documentário em produção provam que o “velho bandido” continua atual e necessário.

Sampaio, já disseram, era o Garrincha da MPB. Os dribles tortos se manifestavam na briga contra o óbvio, na verve afiada e - por que não? - no bom humor cínico e irônico. Como Garrincha, o botafoguense Sérgio Sampaio conheceu o sucesso, o ostracismo e a lama, muito por causa dos excessos, mas também por causa do brilhantismo e da recusa a se entregar a um sistema com o qual não concordava. Morreu aos 47 anos, vítima de uma pancreatite, mas até o fim continuou produzindo.

Pouco antes de morrer, Sampaio estava animado, apesar da doença, para gravar o primeiro CD - os anteriores foram lançados em LP. Acreditava nas canções que levaria para o estúdio e com elas esperava, de um certo modo, recomeçar. A irmã, Mara Moraes Sampaio, lembra com emoção a despedida de Sérgio. Já debilitado, ele passou algumas semanas com a família em Cachoeiro de Itapemirim (ES).

Em 4 de abril de 1994, Sampaio foi embora para o Rio de Janeiro, onde faria as gravações do novo álbum. Antes de sair, autografou uma foto e deixou para Mara - o que nunca havia feito. A relação dos dois era de muita proximidade. “Enquanto a gente se abraçava, ele falou no meu ouvido: ‘Eu vou para o Rio, vou gravar meu CD, eu vou ganhar dinheiro e mandar para você, porque você não vai ter a vida sofrida que a nossa mãe teve. Eu não vou deixar’”, recorda.

A personalidade difícil e a teimosia, diz Mara, eram uma herança do pai, Raul Sampaio, também músico - autor de Cala a boca, Zebedeu, gravada pelo filho “Sérgio não era fácil. E ele começou a beber com 16 anos. Era um boêmio. Dormia muito tarde e acordava tarde também. Aí, ninguém podia falar com ele, porque ele não conversava com ninguém até tomar o café. Quando voltava a tomar uísque é que começava a ser mais sociável”, lembra.

Sampaio se destacou no cenário nacional em 1972, com Eu quero é botar meu bloco na rua, apresentada inicialmente no IV Festival Internacional da Canção. O compacto com a música vendeu cerca de 500 mil cópias. Esperava-se daí que Sampaio fizesse, em série, músicas com o mesmo potencial mercadológico, mas não era para isso que tinha saído adolescente de Cachoeiro de Itapemirim - cidade do Espírito Santo, que é também terra natal de Roberto Carlos e Rubem Braga. Sampaio fez o que queria, deu de ombros para a estrutura de divulgação da gravadora e ficou malvisto pelos executivos da música.

“Eu gosto de pensar que ele foi agente da própria carreira e que essas escolhas foram conscientes. Ele abriu mão do que estava se prometendo ali para ele, porque não era naquilo que ele acreditava”, diz o filho, João Sampaio, 36 anos. “Eu tenho um puta orgulho disso. Mostra que ele era um cara que, além de tudo, tinha princípios muito firmes. É claro que ele sofreu o peso das escolhas que fez”, completa.

Por causa desse perfil e da música de vanguarda - misturando samba, blues, choro, uso de efeitos sonoros atípicos e uma poesia cortante e precisa -, Sampaio foi classificado pelas gravadoras como maldito, ao lado de nomes como Luiz Melodia e Jards Macalé. “Malditos por quê? Para quem? Eles eram benditos, na verdade, porque receberam um talento grande demais e souberam usar”, questiona o cantor e compositor Xangai, amigo e compadre do cantor. “Sérgio Sampaio era uma espécie de vulcão, sempre efervescente, sempre um excelente compositor.”

Foi Xangai quem, no fim da vida do artista, conseguiu recolocar Sampaio nos eixos, conta o músico e atesta João Sampaio. “Ele bebia demais, fumava demais. A gente quer que as pessoas talentosas tenham saúde para mostrar o que fazem. Então, um dia eu ralhei com ele, repreendi muito duramente. Amigo não é só quem fala o que a gente quer ouvir, não. É quem fala o que precisa ser dito. Desse dia em diante, ele nunca mais bebeu”, detalha Xangai. A história se passou no início dos anos 1990.

Mas já era tarde, diz João. “A partir daí, as coisas meio que se clarearam. Esse foi o momento de maior sobriedade do meu pai, quando ele foi de fato o que ele era, mas quando ele pisou no freio, não era mais suficiente.” Sampaio morreu em 1994.

João reconhece a atualidade da obra do pai, mas lamenta que as letras mais duras de Sampaio façam tanto sentido hoje, em tempos de intolerância e obscuridade. “Preferia que ele ficasse datado, e a gente não precisasse viver as letras dele na pele. Fico triste de saber que caminhamos para viver o que ele escreveu em Filme de terror e não em Quem é do amor”, diz. Apesar de tudo, ainda resta esperança, porque, como o próprio Sampaio escreveu, “o pior dos temporais aduba o jardim”.

Texto | Alexandre de Paula

1971 | SESSÃO DAS DEZ
(Sociedade da Grã-Ordem Kavernista)


01. Êta Vida
02. Sessão das Dez
03. Eu Vou Botar Pra Ferver
04. Eu Acho Graça
05. Chorinho Inconsequente
06. Quero Ir
07. Soul Tabarôa
08. Todo Mundo Esta Feliz
09. Aos Trancos E Barrancos
10. Eu Não Quero Dizer Nada
11. Dr.Pacheco
12. Finale

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1972 | EU QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA

01. Leros & Leros & Boleros
02. Filme de Terror
03. Cala a Boca, Zebedeu
04. Pobre Meu Pai
05. Labirintos Negros
06. Eu Sou Aquele que Disse
07. Viajei de Trem
08. Não Tenha Medo Não
09. Da. Maria de Lourdes
10. Odete
11. Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua
12. Raulzito Seixas

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1976 | TEM QUE ACONTECER

01. Até Outro Dia
02. Que Loucura
03. Cada Lugar na Sua Coisa
04. Cabras Pastando
05. Velho Bode
06. O Que Pintar Pintou
07. A Luz e a Semente
08. Tem Que Acontecer
09. Quanto Mais
10. Quatro Paredes
11. Filho do Ovo

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1982 | SINCERAMENTE

01. Homem de Trinta
02. Na Captura
03. Tolo Fui Eu
04. Só Para o Seu Coração
05. Essa Tal de Mentira
06. Meu Filho, Minha Filha
07. Cabra Cega
08. Sinceramente
09. Nem Assim
10. Doce Melodia
11. Faixa Seis

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1990 | SEGREDO DE ITAPUÃ (AO VIVO)

01. Dona Maria De Lourdes (entrevista sobre a morte de Raul Seixas)
02. Dadim (inédita)
03. Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua
04. Quero Ir





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1994 | CRUEL CRU (Demo)

01. Em Nome de Deus
02. Roda Morta
03. Polícia, Bandido, Cachorro, Dentista
04. Brasília
05. Quero Encontrar um Amor
06. Magia Pura
07. Muito Além do Jardim
08. Destino Trabalhador
09. Pavio do Destino
10. Uma Quase Mulher
11. Rosa Púrpura de Cubatão
12. Chuva Fina
13. Menino João (ao vivo)

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1998 | BALAIO DO SAMPAIO

01. Sérgio Sampaio | Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua
02. Chico César | Em Nome de Deus
03. Erasmo Carlos | Feminino Coração de Deus
04. João Bosco | Rosa Púrpura de Cubatão
05. Zeca Baleiro | Tem Que Acontecer
06. Zizi Possi | Meu Pobre Blues
07. Lenine | Pavio do Destino
08. João Nogueira | Até Outro Dia
09. Eduardo Dusek | Velho Bode
10. Renato Piau | Que Loucura
11. Jards Macalé | Velho Bandido
12. Luiz Melodia | Cala a Boca, Zebedeu
13. Elba Ramalho | Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua

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1998 | CACHORRO, BANDIDO, DENTISTA
(Arquivo único)


01. Em Nome de Deus
02. Roda Morta (Ou Reflexões De Um Executivo)
03. Policia, Cachorro, Bandido, Dentista
04. Brasilia
05. Quero Encontrar Um Amor
06. Magia Pura
07. Muito Alem do Jardim
08. Chorar de Dor
09. Pavio Do Destino
10. Uma Quase Mulher
11. Rosa Púrpura De Cubatão
12. Eta Vida
13. Eu Vou Botar Pra Ferver

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2002 | 25 ANOS

01. Até Outro Dia
02. Que Loucura
03. Cada Lugar na Sua Coisa
04. Cabras Pastando
05. Velho Bode
06. O Que Pintá, Pintô
07. A Luz e a Semente
08. Quanto Mais
09. Tem que Acontecer
10. O Filho do Ovo
11. Velho Bandido
12. O Teto da Minha Casa
13. Ninguém Vive por Mim
14. Quatro Paredes

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2006 | CRUEL

01. Em Nome de Deus
02. Roda Morta
03. Polícia, Bandido, Cachorro, Dentista
04. Brasília
05. Magia Pura
06. Rosa Púrpura de Cubatão
07. Muito Além do Jardim
08. Real Beleza
09. Pavio do Destino
10. Quero Encontrar um Amor
11. Quem é do Amor
12. Cruel
13. Uma Quase Mulher
14. Maiúsculo

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2010 | AO VIVO NO CABARÉ MINEIRO, 1986

01. Viajei De Trem
02. Pobre Meu Pai
03. Cala A Boca, Zebedeu
04. Quatro Paredes
05. Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua
06. Que Loucura
07. Só Para Ganhar O Carnaval
08. Meu Pobre Blues
09. Roda Morta
10. Cabras Pastando
11. Ninguém Vive Por Mim
12. O Que Eu Sinto Agora

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1971-1977 | COMPACTOS

1971 | ANA JUAN
01. Coco Verde
02. Ana Juan

1972 | NÃO ADIANTA
01. Classificados N° 1
02. Não Adianta

1974 | MEU POBRE BLUES
01. Meu Pobre Blues
02. Foi Ela

1975 | VELHO BANDIDO
01. Velho Bandido
02. O Teto da Minha Casa

1977 | NINGUÉM VIVE SEM MIM
01. Ninguém Vive Por Mim
02. História de Boêmio (Um Abraço em Nelson Gonçalves)

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