quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Rita Lee & Tutti Frutti


Fruto Proibido é o quarto álbum solo de Rita Lee e o segundo dela com a banda Tutti Frutti. O álbum marca a sua estreia na gravadora Som Livre e torna a cantora uma superestrela do rock brasileiro. Mas desde a sua saída dos Mutantes até chegar ao estrelato com Fruto Proibido, ela pegou caminhos tortuosos e passou por frustrações.

No final de 1972, Rita Lee foi “convidada” a deixar os Mutantes por não se “enquadrar” na nova orientação que a banda estava tomando que era o rock progressivo. A cantora já se mostrava insatisfeita com os novos rumos do grupo, distantes do humor e da musicalidade anárquica dos primeiros discos. Com a amiga Lúcia Turnbull, forma em 1973 a dupla Cilibrinas do Éden, voltada para uma proposta acústica. Porém a ideia foi um tremendo fisco e a própria Rita sentia falta da energia pulsante do som elétrico do rock.

Naquele mesmo ano, Rita e Lúcia conheceram a banda Lisergia, da qual o guitarrista Luiz Sérgio Carlini, o baixista Lee Marcucci e o baterista e Emilson Colantonio faziam parte. Juntaram-se e a banda foi rebatizada de Rita Lee & Tutti Frutti, por sugestão da gravadora Philips. O som da banda era voltado para uma sonoridade que abarcava influências de Rolling Stones, David Bowie, hard rock, blues, glam rock e um clima mais festeiro, bem diferente da seriedade que os Mutantes haviam adotado ao mergulharem de vez no rock progressivo.

Em 1974, Rita Lee & Tutti Frutti lançaram pela Philips/Phonogram o álbum Atrás Do Porto Tem Uma Cidade, trabalho que não foi bem recebido pela crítica. O processo de finalização do álbum, que sofreu alterações, gerou atritos entre a Rita Lee e a gravadora. A cantora se mostrou contrariada pelo fato do produtor do disco ter mexido na faixa “Menino Bonito”, que sem o consentimento de Rita e da banda, sofreu o acréscimo de uma orquestra de cordas durante a mixagem, coisa que não estava prevista pela banda. Para completar, a gravadora Philips não teria trabalhado com empenho na divulgação do álbum, o que gerou desentendimentos entre Rita Lee e o diretor da gravadora, André Midani. A Philips estaria mais interessada em apostar no ex-Secos Molhados, João Ricardo, como a nova estrela do rock da gravadora. O clima pesado culminou com a rescisão de contrato entre a gravadora e Rita Lee & Tutti Frutti. Depois dessa confusão, Lúcia Turnbull e Edmilson deixaram o Tutti Frutti.

Em 1975, Tutti Frutti conta com nova formação com a entrada de Franklin Paolilo na bateria no lugar de Edmilson, e a chegada do tecladista Paulo Maurício e dos backing vocals e irmãos gêmeos Rubens Nardo e Gilberto Nardo.

Naquele ano, Rita e banda assinam contrato com a Som Livre que lança em junho daquele ano Fruto Proibido. Ao contrário do álbum anterior, Fruto Proibido é muito bem recebido crítica que destaca o amadurecimento de Rita Lee como letrista e o talento do guitarrista Luiz Sérgio Carlini.

“Dançar Pra Não Dançar” é a faixa que abre o álbum e já dá indícios de que a liberdade feminina se tornaria um tema constante na obra de Rita (“Dance, dance, dance / Faça como Isadora / Que ficou na História / Por dançar como bem quisesse”). A letra faz uma alusão a Isadora Duncan (1877-1927) bailarina pioneira da dança moderna. Em “Agora Só Falta Você”, a guitarra de Carlini cresce e estabelece um “diálogo” com a bateria de Paolillo, cujas viradas preenchem os espaços da música com maestria. O ritmo desacelera com o blues “Cartão Postal”, pareceria de Rita Lee e Paulo Coelho, parceiro de Raul Seixas, mas que naquele momento estava afastado do roqueiro baiano. No galopante blues rock “Fruto Proibido”, a gaita tocada por Carlini dá um toque especial à faixa. "Esse Tal De Roque Enrow", outra parceria de Paulo Coelho e Rita, fecha o lado A do álbum, tendo a guitarra de Carlini “duelando” com os solos de sax de Manito, ex-Incríveis, músico convidado.

O lado B começa com mais uma parceria de Paulo e Rita, “O Toque”, um misto de hard rock e rock progressivo, único momento do disco que remete um pouco aos Mutantes. “Pirataria” traz um solo de flauta executada por Manito e que dá um clima de Jethro Tull à música. Em “Luz Del Fuego”, a temática feminista fica escancarada, com destaque para a incrível sintonia entre guitarra, baixo e bateria na introdução. A autobiográfica “Ovelha Negra” fecha o álbum e traz o solo de guitarra emocionante de Carlini no final, sem sombra de dúvidas, maior solo de guitarra da história do rock brasileiro.

Um personagem que se tornaria uma peça fundamental para o acabamento de Fruto Proibido foi o seu produtor, o inglês Andy Mills. Ele fazia parte da equipe de Alice Cooper, na qual trabalhou como técnico de som. Andy veio para o Brasil com a equipe do mestre do rock horror para uma apresentação, e acabou fixando residência no país. A sua experiência em ter trabalhado no primeiro escalão do rock mundial, deu a Fruto Proibido um caráter diferenciado se comparado a outros discos de rock produzido por produtores brasileiros naquele momento. Era comum na época, os produtores brasileiros limitarem o potencial das guitarras, torná-las mais “domesticadas” para o ouvinte. Em Fruto Proibido, Andy deixou as guitarras mais livres e o volume da bateria mais alto do que o comum, dando mais “musculatura” ao som do instrumento no disco e realçando a técnica do baterista.

Comercialmente, Fruto Proibido foi muito bem. O fato da Som Livre pertencer à Rede Globo, ajudou a dar visibilidade a Rita Lee & Tutti Frutti através das propagandas do álbum nos intervalos da programação da rede de televisão. Puxado pelos hits "Ovelha Negra", "Agora Só Falta Você" e "Esse Tal De Roque Enrow", o álbum chegou à marca e 200 mil cópias vendidas. O sucesso do álbum foi tão grande que Rita e banda saíram em uma grande turnê nacional com uma equipe composta por mais de 20 pessoas, entre músicos e técnicos, 6 toneladas de equipamento de som e luz, e uma produção de alto nível jamais visto até em apresentações de artistas do rock brasileiro até então. O sucesso de Fruto Proibido não deixou de ser também para Rita Lee, um tapa na cara com luva de pelica nos ex-companheiros dos Mutantes e na sua antiga gravadora, a Philips/Phonogram.

Durante a turnê de Fruto Proibido, Rita e banda prepararam material para o álbum seguinte. A excursão desbravadora inspirou o nome do álbum que viria em seguida: Entradas e Bandeiras, de 1976.

Fruto Proibido é considerado pela crítica um dos maiores discos de rock produzidos no Brasil, bem como um dos mais importantes discos da música popular brasileira.

Texto retirado de | Discos Essenciais

1975 | FRUTO PROIBIDO

01. Dançar Pra Não Dançar
02. Agora Só Falta Você
03. Cartão Postal
04. Fruto Proibido
05. Esse Tal De Roque Enrow
06. O Toque
07. Pirataria
08. Luz Del Fuego
09. Ovelha Negra

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