sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Big Brother & The Holding Company


Pouco antes do lançamento do primeiro álbum, o grupo mandou ver no Monterey Pop Festival, aguçando a visão dos empresários da Columbia, que compraram os direitos da pequena Mainstream e partiram para lançar o segundo disco de Janis e cia.

A Columbia queria gravar o disco ao vivo, e assim, organizou uma extensa turnê pelos Estados Unidos, com o Big Brother & The Holding Company sendo o primeiro grupo californiano a apresentar-se em Nova York. O show no The Grande Ballroom de Detroit foi registrado, mas não agradou nem à gravadora nem ao grupo. A solução para encontrar a potência sonora de improvisos ao vivo foi justamente gravar ao vivo no estúdio, com a inserção de palmas e assovios. A Columbia conseguiu essa façanha com sobras: nascia assim o melhor disco da era flower power, além de ser o mais representativo e mais famoso da carreira de Janis.

Cheap Thrills é um apanhado de clássicos, superior aos dois outros principais concorrentes a melhor disco da Califórnia sessentista (Moby Grape, do grupo de mesmo nome, lançado em 1968, e Surrealistic Pillow, do Jefferson Airplane, de 1967). Esse é o verdadeiro baú dos tesouros do grupo, desde sua abertura com a energética e cheia de improvisos “Combination of the Two“, com um show de vocalizações de Janis Joplin, passando pela emocionante “I Need a Man To Love”, com a vocalista implorando por um homem correto para poder amar, chegando na clássica verão para “Summertime” (original dos irmãos Gershwin), com um tocante arranjo feito por Andrew, e com Janis cantando muito, além do encerramento do Lado A com o conhecidíssimo riff de “Piece of My Heart”, onde Janis oferece mais um espaço de seu coração para o amor que lhe menospreza. Cheap Thrills mostra toda a evolução técnica que Andrew, Gurley, Albin e o baterista David Getz haviam conseguido, e, principalmente, como Janis realmente era o centro das atenções.

O que ela faz no Lado A, ainda que seja fantástico, não é nada comparado ao Lado B, que abre com a ótima “Turtle Blues”, trazendo a participação de Albin no violão e John Simon ao piano, resgatando as raízes blueseiras da cantora. Depois vem o momento de Albin no LP, responsável por cantar e fazer o solo de “Oh Sweet Mary“, uma reformulação de “Coo-Coo”, que ganhou uma passagem vocal construída por Janis e um viajante solo de guitarra, acompanhado por uma hipnotizante cítara, em uma das canções menos conhecidas da carreira de Janis Joplin, mas que é uma baita música. Se ela é pouco conhecida, isso se deve à grandiosidade da obra-prima que encerra o LP, “Ball and Chain“. Essa é a canção que revelou Janis ao mundo, na citada apresentação de Monterey, e neste disco, é a única gravada realmente diante uma plateia, em Winterland. O que Janis faz é de tirar o fôlego.

A mudança do arranjo original (criado por Big Mama Thorton), adicionando escalas menores, transformam um alegre blues em algo sombrio e triste, auxiliando ainda mais para que Janis coloque o pulmão e o coração na garganta, arrancando lágrimas da agulha do toca-discos. Em “Ball and Chain”, Janis bota no chão todas (eu digo todas mesmo) as cantoras de rock, jazz, blues… Qualquer estilo, agonizando os últimos minutos de sua vida através de um canto. O que a mulher faz não dá para descrever em nenhuma palavra.

Claro que o arrepiante (mesmo sem técnica) solo de Gurley, com sua guitarra gemendo muito, ajuda ainda mais no clima depressivo da canção, mas é Janis quem comanda todas as ações, principalmente no crescendo final, quando ouve-se Janis cantar “this can’t be” e seus “no no no”, fora todos os gritos extraídos sabe lá Deus de onde, é para ficar arrepiado por dias. Ainda há o longo grito final de Janis, para no seu momento a capella, diante de um público que a aplaude e ovaciona, encantado ao ver e ouvir a jovem garota soltando sua emoção, chorando ao microfone, quando pronuncia as últimas palavras, que são o nome da canção, com o público inteiro aplaudindo muito o que acabou de presenciar. O resultado disso fez de Cheap Thrills o disco mais vendido da história do flower power em seu lançamento (um milhão de cópias na primeira semana), conquistando seu espaço como a primeira superstar do rock.

Oito músicas ficaram de fora do álbum, e seis delas saíram posteriormente no álbum Farewell Song (1982), que são: “Catch Me Daddy”, “Farewell Song”, “Magic of Love”, “Amazing Grace”, “Hi-Heel Sneakers” e “Harry”, porém creditadas sob a alcunha “Janis Joplin with Big Brother & The Holding Company”. As demais, “It’s a Deal” e “Easy Once You Know How”, saíram como bônus na caixa Box of Pearls, que no relançamento de Cheap Thrills veio com mais quatro bônus: “Roadblock”, “Flower in the Sun”, “Catch Me Daddy” e “Magic of Love”, as duas últimas gravadas ao vivo no The Grande Ballroom, em 1968. Do registro original, “Piece of My Heart” e “Down on Me” apareceram posteriormente no álbum Janis in Concert (1972).

O sucesso da cantora a levou a sair amigavelmente do grupo, que encerrou as atividades por um breve período, já que Janis levou com ela Sam Andrew, seguindo uma curta mas excepcional carreira solo.

Texto retirado de | Consultoria do Rock

1968 | CHEAP THRILLS

01. Combination of the Two
02. I Need a Man to Love
03. Summertime
04. Piece of My Heart
05. Turtle Blues
06. Oh, Sweet Mary
07. Ball and Chain


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