domingo, 2 de junho de 2019

Carlos Dafé

“Os ensaios, rangos e bauretes na Seroma não paravam de receber convidados. Muitos músicos nem faziam parte da banda, apareciam só pelo prazer de tocar e aprender com bons músicos. Um dos mais freqüentes era um pretinho magrinho de Vigário Geral, todo bonitinho, que tocava piano, baixo e órgão, além de compor e cantar muito bem. Com 20 anos, Carlos Dafé tinha sido fuzileiro naval, isto é, da banda dos Fuzileiros Navais, e depois de dar baixa formou o conjunto Fuzi-9, que o levou aos Estados Unidos e ao Caribe tocando em um navio. Na volta, gravou um compacto na Philips, na onda do soul. O disco não chegou a acontecer, mas, levado pelo divulgador Paulo Murilo, chegou às mãos e aos ouvidos de seu ídolo Tim Maia, que gostou muito do seu som e mandou chamá-lo.

A primeira visão que Dafé teve de Tim foi assustadora. Ele estava hospedado em um hotel no Lido, ponto de putas em Copacabana, e o recebeu completamente nu, felizmente debaixo de um cobertor com Janete. Ofereceu um uísque e disse que ficasse à vontade, estava contratado. No dia seguinte, Dafé já estava torrando bauretes e tocando entre as feras da Seroma — as musicais e as caninas.”

A apresentação acima faz parte do livro Vale Tudo – O som e a fúria de Tim Maia, escrito pelo jornalista e produtor bem relacionado, Nelson Motta, e narra o início da carreira do soul man Carlos Dafé, até seu encontro decisivo com Tim. Se não bastasse ter o Síndico como padrinho, vale lembrar que Dafé, apelidado pelo autor do livro como Príncipe do Soul, teve uma breve passagem também pela banda Abolição, liderada por Dom Salvador, antes dos fatos acima citados. É fraco o rapaz?

O disco Pra que vou recordar, de 1977, foi a estreia de Carlos Dafé em um cenário esquentado pelo movimento Black Rio, e chegou a vender quase 250 mil cópias na época. Suas principais canções estão nesse registro, e podemos encontrar referências de algumas delas em músicas de Seu Jorge, Sabotage e Rappin Hood. Assim como Hyldon, Cassiano, Gerson King Combo, e tantos outros, Carlos Dafé não teve nas décadas seguintes o devido reconhecimento por seu talento, seguindo a sina do soul man brasileiro. Constantemente é visto dando uma palinha nos shows do Instituto, além de ter participado de algumas apresentações internacionais ao lado do carioca Arthur Verocai. Entenda o porquê.

Texto | Vitor Ranieri

1977 | PRÁ QUE VOU RECORDAR

01. De Alegria Raiou o Dia
02. Tudo era Lindo
03. A Cruz
04. Hello Mr. Wonder
05. Bem Querer
06. Pra que Vou Recordar oque Chorei
07. Zé Marmita
08. Bichos e Crianças
09. O Metro

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