terça-feira, 12 de março de 2019

Caetano Veloso


“Um dia, Caetano chegou pra ficar”, assim dizia o título da reportagem assinada pelo crítico Sérgio Bittencourt, na edição do Globo de 25 de novembro de 1966. O texto anunciava a chegada ao Rio de Janeiro de um “compositor jovem, vindo da Bahia”, que acabara de conquistar o prêmio de melhor letra no II Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, com a música “Um dia”, interpretada pela cantora Maria Odete. Na ocasião, “o moço simples, de Santo Amaro da Purificação”, decretava, em tom profético:

— Começo a sentir os primeiros sintomas de uma nova virada. Ela está para acontecer, não tenham dúvidas. Eu quero estar na crista dessa virada, com todo o meu coração.

De fato, não demoraria muito para que Caetano Emanuel Viana Teles Veloso viesse a se tornar uma das referências da música popular brasileira. Versátil e universal, o baiano se converteu num dos mais influentes artistas de uma geração de ouro que despontou em fins dos anos 60, contando com os talentos de Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Edu Lobo, Maria Bethânia, Gal Costa, entre outros. Expoente do tropicalismo, ajudou a fundar e difundir o movimento de vanguarda no meio musical, abalando as estruturas da MPB.

O menino Caetano nasceu, em 7 de agosto de 1942, na pequena Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. Era o quinto dos sete filhos do funcionário público José Teles Velloso, que apreciava música e poesia, e da festeira e musical Dona Canô. Da família, intensamente ligada às tradições folclóricas da região, como o samba de roda, Caetano herdou a vocação artística e musical.

Logo cedo, mostrou interesse em desenho, pintura, cinema e aprendeu a tocar violão. Enquanto acompanhava o trabalho de cantores de rádios e músicos da bossa nova, apaixonou-se pela canção “Chega de saudade” (1959), do disco homônimo de João Gilberto, que se tornou sua principal referência artística. Entre 1960 e 1962, estimulado pelo Cinema Novo, escreveu críticas de filmes para o “Diário de Notícias”, de Salvador. No ano seguinte, iniciou o curso superior em Filosofia, na Universidade Federal da Bahia, e realizou seu primeiro trabalho na música, compondo a trilha sonora para a peça “Boca de ouro”, de Nelson Rodrigues, dirigida por Álvaro Guimarães. Em 1964, participou de espetáculos quase amadores em Salvador, como o musical “Nós, por exemplo”, ao lado da irmã Maria Bethânia, Gal Costa, Tom Zé e Gilberto Gil.

Seu primeiro trabalho profissional na música, com pegada bossa-novista, veio em 1965, com o compacto “Cavaleiro/Samba em paz”, lançado pela RCA, enquanto acompanhava Bethânia na turnê do espetáculo “Opinião”, no Rio de Janeiro, cidade que escolheria para viver. Foi Bethânia, aliás, que o lançara ao mercado como compositor, pouco antes, com a gravação em compacto de “É de manhã”. Ainda influenciado pela bossa nova, Caetano gravou seu primeiro LP, “Domingo”, em 1967, em parceria com Gal Costa, emplacando sua primeira canção de sucesso (“Coração vagabundo”), e obtendo reconhecimento da crítica.

Ainda em 1967, casou-se com Dedé Gadelha, em Salvador, e enlouqueceu o público do III Festival de Música Popular, da TV Record, ao apresentar “Alegria, alegria”. Na ocasião, a música cantada por Caetano, acompanhado de guitarras elétricas do grupo argentino “Beat Boys”, causou enorme frisson, terminando em quarto lugar na competição. Junto com “Domingo no Parque”, também executada ao som de guitarras por Gilberto Gil e Os Mutantes, e classificada em segundo lugar, a canção lançou a base do som tropicalista — influenciado pela Jovem Guarda e pelos Beatles —, dando início ao movimento de vanguarda que provocou efervescência na música popular brasileira.

No início de 1968, Caetano lançou seu primeiro LP solo (“Caetano Veloso”), que contou com sucessos como “Soy loco por tí, America” e “Superbacana”, além da própria “Alegria, alegria” e da canção-manifesto “Tropicália” (com o verso “eu organizo o movimento”). O principal marco do Tropicalismo, no entanto, foi o lançamento, no ano seguinte, do álbum “Tropicália” ou “Panis et circensis”, em que Caetano e Gil — ao lado de Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes, Tom Zé, Capinam, Torquato Neto e Rogério Duprat —, apresentavam uma inusitada mistura de estilos e sonoridades musicais, de raízes brasileiras e estrangeiras, firmando as bases do movimento. Ainda em 1968, em meio ao endurecimento do regime militar, Caetano apresentou no III Festival Internacional da Canção, da TV Globo, a canção “É proibido proibir”, sendo vaiado e desclassificado na final paulista após realizar histórico discurso de improviso contra o público e o júri: “vocês não estão entendendo nada!”, gritou, na ocasião.

O estilo vanguardista e contestador de Caetano atraiu a atenção do regime militar, até que, em dezembro de 1968, ele foi preso, em São Paulo, junto com Gilberto Gil sob a acusação de terem desrespeitado a bandeira e o hino brasileiros durante uma apresentação. A delação, segundo revelou o compositor anos mais tarde, teria sido feita pelo locutor de rádio Randal Juliano, que noticiou o fato sem checar sua veracidade. Os dois foram levados para o Rio, tiveram as cabeças raspadas, sendo submetidos a interrogatório, e permaneceram detidos num quartel do Exército. Após quase dois meses, Caetano e Gil foram inocentados e autorizados a voltar para Salvador, devendo cumprir, no entanto, prisão domiciliar. Em julho de 1969, os militares decidiram que a situação dos dois só se resolveria com o exílio, e os autorizaram a realizar um show de despedida para arrecadação de fundos, partindo em seguida para Londres, na Inglaterra. ( ... )

Texto | Fabio Ponso
Leia mais em | Acervo O Globo

:: ANOS 70 ::

1971 | CAETANO VELOSO

01. A Little More Blue
02. London, London
03. Maria Bethânia
04. If You Hold a Stone
05. Shoot Me Dead
06. In the Hot Sun of a Christmas Day
07. Asa Branca


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1972 | TRANSA

01. You Don't Know Me
02. Nine Out of Ten
03. Triste Bahia
04. It's a Long Way
05. Mora na Filosofia
06. Neolithinc Man
07. Nostalgia


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1972 | BARRA 69 AO VIVO NA BAHIA
Caetano Veloso e Giberto Gil


01. Caetano Veloso | Cinema Olympia
02. Gilberto Gil | Frevo Rasgado
03. Caetano Veloso | Superbacana
04. Gilberto Gil | Madalena (Entra em Beco, Sai em Beco)
05. Caetano Veloso | Atrás do Trio Elétrico
06. Gilberto Gil | Domingo no Parque
07. Caetano e Gil | Medley: Alegria, Alegria | Hino Do Esporte Clube Bahia | Aquele Abraço

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1973 | ARAÇÁ AZUL

01. Viola, Meu Bem
02. De Conversa/Cravo e Canela
03. Tu Me Acostumbraste
04. Gilberto Misterioso
05. De Palavra Em Palavra
06. De Cara/Eu Quero Essa Mulher
07. Sugar Cane Fields Forever
08. Júlia/Moreno
09. Épico
10. Araçá Azul

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1975 | JÓIA

01. Minha Mulher
02. Guá
03. Pelos Olhos
04. Asa, Asa
05. Lua, Lua, Lua, Lua
06. Canto do Povo de Um Lugar
07. Pipoca Moderna
08. Jóia
09. Help
10. Gravidade
11. Tudo Tudo Tudo
12. Na Asa do Vento
13. Escapulário

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1975 | QUALQUER COISA

01. Qualquer Coisa
02. Da Maior Importância
03. Samba e Amor
04. Madrugada e Amor
05. A Tua Presença Morena
06. Drume Negrinha
07. Jorge de Capadócia
08. Eleanor Rigby
09. For No One
10. Lady Madonna
11. La Flor de La Canela
12. Nicinha

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1977 | MUITOS CARNAVAIS

01. Muitos Carnavais
02. Chuva, Suor e Cerveja
03. A Filha de Chiquita Bacana
04. Deus e o Diabo
05. Piaba
06. Hora da Razão
07. Atrás do Trio Elétrico
08. Um Frevo Novo
09. Cara a Cara
10. La Barca
11. Qual é, Baiana?
12. Guarde Seu Conselho

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1977 | BICHO

01. Odara
02. Two Naira Fifty Kobo
03. Gente
04. Olha o Menino
05. Um Ídio
06. A Grande Borboleta
07. Tigresa
08. O Leãozinho
09. Alguém Cantando

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1978 | MUITO
Dentro da Estrela Azulada


01. Terra
02. Tempo de Estio
03. Muito Romântico
04. Quem Cochicha o Rabo Espicha
05. Eu Sei Que Vou Te Amar
06. Muito
07. Sampa
08. Love Love Love
09. Cá Já
10. São João, Xangô Menino
11. Eu Te Amo

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1979 | CINEMA TRANSCENDENTAL

01. Lua de São Jorge
02. Oração ao Tempo
03. Beleza Pura
04. Menino do Rio
05. Vampiro
06. Elegia
07. Trilhos Urbanos
08. Louco por Você
09. Cajuína
10. Aracaju
11. Badauê
12. Os Meninos Dançam

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