sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Elton John


Elton John: em 1971, uma das pérolas da carreira do músico

Reginald Kenneth Dwight, conhecido mundialmente como Elton John, esteve fazendo shows recentemente no Brasil e encantando pequenas multidões nas cidades que tiveram a sorte de recebê-lo. Apesar de ter se rendido nos últimos anos a um insosso pop açucarado (essa mistura é possível?) que marcou presença na maioria das novelas das 8, a discografia do pianista tem verdadeiras pérolas, especialmente na primeira década de sua carreira. Um deles é "Madman Across The Water", de 1971, um verdadeiro compêndio de grandes músicas, com um flerte muito nítido com o rock progressivo (principalmente pela participação de outro operário das teclas, o grande gênio Rick Wakeman). Imagine um grande pianista chamado um gênio dos teclados para tocar ao seu lado. Pois é. O resultado é algo como "Madman Across The Water".

Injustamente, apenas duas músicas deste álbum ganharam destaque maior através dos anos. No entanto, o álbum é mais um dos citados no livro "1001 discos para ouvir antes de morrer", de Robert Dimery.

Este foi o quinto disco de estúdio da carreira de Elton John e, impressionantemente, o sexto em apenas dois anos (sem contar com um disco ao vivo). Para ele, seu grande parceiro, Bernie Taupin, criou um rosário de pequenas estórias, várias Eleanores Rigby, focando em cada música algum deles ou um par e suas relações.

Foi este disco que apresentou ao mundo "Tiny Dancer", um dos grandes sucessos da carreira do pianista/vocalista, uma balada que é presença obrigatória em qualquer show de Elton John. Uma estorieta de um pianista e uma bailarina transformada em singela canção de amor. A próxima na lista, também é um grande sucesso, apesar de não tão conhecida quanto a faixa de abertura. Estamos falando de "Levon", mais uma canção em que Bernie Taupin foca em um personagem e Elton John transforma a estória em uma belíssima música. O nome do personagem seria uma homenagem a Levon Helm, baterista do The Band, mas o Levon, da música, seria um muquirana, filho de um tal de Alvin Tostig e teria nascido num dia de natal, o mesmo dia em que o New York Times noticiara a morte de Deus: o início de uma guerra. Os Tostings sonhavam que o recém-nascido seria um bom homem, mas, ele tornara-se apenas mais um discípulo do Tio Patinhas. Enquanto isso, Jesus, filho de Levon, sonhava em ir para Vênus nos balões que eram o negócio da família, deixando para trás o pai que morreria lentamente. Apesar de hoje parecer na letra que o personagem Levon Tosting seria um velho rabugento, fazendo as contas percebemos que na época em que o disco foi lançado, ele teria cerca de 32 anos (considerando-se que a guerra mencionada seria a segunda grande guerra) ou 56 (se considerarmos a primeira). Ou seja, talvez fosse mesmo um velho rabugento, mas prematuramente, um personagem tão solitário e triste que poderia se confessar com o Padre McKenzie (da canção dos Beatles que eu já citei lá em cima). Outra curiosidade a respeito da música, Levon seria um dos nomes dados por Elton John e seu marido David Furnish ao filho adotivo dos dois, Zachary, que também nasceu num dia de natal.

Razor Face não faz jus ao disco e se mostra uma canção bem enfadonha apesar da boa introdução ao piano de Elton John e das reviravoltas de Wakeman. É talvez a pausa necessária antes de contemplar a loucura descrita em "Madman Across The Water", talvez a canção mais influenciada pelo rock progressivo em toda a carreira do pianista. Tudo nesta canção é contundente, mas se encaixa perfeitamente. Sem deixar a emoção diminuir, "Indian Sunset" traz Elton John incorporando um índio que lamenta ao assistir, desolado, descrente, ao declínio de sua civilação. Aqui temos outra obra prima de Taupin musicada por John. A Lua amarela irá, em breve, nos deixar e a raça do homem vermelho está se acabando. "Que tipo de palavras são essas que escuto da boca de Cachorro Vermelho, a quem o homem branco teme?", diz o personagem, um jovem guerreiro que encontra a paz que só vem em um buraco de bala.

Deixando os personagens de lado, Davey Johnstone e Caleb Quaye e seus dedilhados no solo final e ao longo de toda a música fazem de "Holliday Inn" outra canção bonita. A letra é uma espécie de homenagem aos roqueiros viajando em turnês, gastando seus dedos em dúzias de bandas e dormindo e fazendo dos hotéis os seus lares. "Rotten Peaches" é um rockzinho mais agitado, mas é quase estragado (olhe só que paradoxo) pelo coro que repete o refrão. O percursionista Ray Cooper participa da bela "All The Nasties", mas o brilho é todo garantido pelo coral Cantores in Ecllesia. Ao contrário do que acontece em sua sucessora, a participação do coral fecha muito bem a faixa. Se o disco terminasse aí, já seria um grande final. Mas, Elton John resolveu terminar com a curta (adivinhe) "Goodbie". Nela, a única em que o pianista toca sozinho, ele "pede perdão por ter gasto o seu tempo", ao ouvinte. Que é isso, Elton John? Foi um prazer.

Por | Leonardo Daniel Tavares da Silva

1971 | MADMAN ACROSS THE WATER

01. Tiny Dancer
02. Levon
03. Razor Face
04. Madman Across The Water
05. Indian Sunset
06. Holiday Inn
07. Rotten Peaches
08. All The Nasties
09. Goodbye

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