segunda-feira, 16 de julho de 2018

The Black Keys

Não existe uma receita para quem deseja que sua bandinha de garagem vire um fenômeno do rock mundial. Fora os exemplos de artistas fabricados por grandes gravadoras e os filhos de lendas do rock que surgem do nada, conquistam o mundo e desde o início já vendem milhões, o que faz uma banda “grande” ainda é mistério. O sucesso e o reconhecimento podem vir já no primeiro single ou depois da temida prova do segundo disco. Também podem demorar mais alguns anos, como acontece com as bandas que, depois de batalharem muito, começam a ver zerinhos à direita, aumentando o saldo da conta bancária.

Aqueles que são fãs desses grupos desde o começo costumam reclamar que os seus ídolos se venderam, e que a banda deveria voltar às “suas origens”. Estes apresentam sintomas de um mal conhecido popularmente como “síndrome do underground”, que ataca em grande escala indies e hipsters em todo o mundo. Tal doença se explica pela grande quantidade de bandas com qualidade musical inversamente proporcional ao número de discos vendidos, por mais que existam exceções.

Exemplo de novatos-tardios no mainstream, a dupla de blues rock Black Keys começou não na garagem, mas no porão do baterista Patrick Carney. Depois de nove anos e sete discos, o lançamento de seu novo album, El Camino, consolida o estouro de popularidade que a banda vinha aos poucos ensaiando. Para chegar tão longe, o batera Patrick e Dan Auerbach, vocalista e guitarrista da banda, contaram com ajuda essencial do mítico produtor e trabalhador incansável da música Danger Mouse, que já pode ser considerado um terceiro membro das chaves negras.

A partir do primeiro contato com o produtor, o grupo começou a sair de vez do esquema cru de guitarra e bateria que dominava os quatro primeiros discos, elogiadíssimos, mas que não venderam tanto. Ainda que esses dois instrumentos puxem as músicas da banda, a sonoridade se abriu, resultando em faixas mais cheias e acessíveis, em El Camino e nos dois discos anteriores, também produzidos por Mouse – para quem não conhece, uma das metades do Gnarls Barkley e produtor de uma série de influentes registros da última década.

O disco antes de El Camino, Brothers, de 2010, alcançou um sucesso inesperado, segundo a dupla. Agora, Dan e Patrick se prepararam e lançam um disco que dificilmente não será bem sucedido em termos de crítica ou público. El Camino carrega um ar de continuidade de Brothers, ainda que sem as músicas mais arrastadas e melancólicas presentes no disco anterior. As faixa carregam forte influência da sonoridade hard rock, do rock setentista, rock de garagem e blues da escola de Junior Kimbrough.

Primeiro single e dona de um vídeo espetacular, a irresistível Lonely Boy abre o disco de forma impecável, e ele segue assim até o último segundo. Entre a o lamento da guitarra em Run Right Back e o baixo suingado de Stop Stop, todas as onze faixas tem potencial de single e apresentam refrões grudentos, algo muito difícil de ser encontrado nos álbuns de rock atuais. Outro destaque é a voz de Dan Auerbach, que prova ser uma das melhores da atualidade em Mind Eraser, música escolhida para fechar o álbum.

Em El Camino a bateria está mais presente do que nunca, martelando do início ao fim um ritmo bem mais acelerado do que de costume. A habilidade de Patrick com as baquetas é um assunto que gera certa polêmica, mas, sem enfeitar muito, ele contribui de forma importante para o resultado poderoso do álbum. Little Black Submarines, talvez a melhor música com um submarino de qualquer cor no título de todos os tempos – é o único momento em que as coisas se acalmam um pouco. Mas, depois da linda introdução em voz e violão, a faixa cresce até um solo de guitarra incrível acompanhado pela bataria explosiva de Patrick. A música lembra Stairway to Heaven, do Led Zepplin, mas sem deixar de ser original e 100% Black Keys.

Qualquer lista de melhores do ano de 2011 feita antes desse registro carece urgentemente de revisão. Apesar de não apresentar algumas características do outros trabalhos da dupla, como a sonoridade mais próxima do blues, El Camino é visivelmente um avanço sem motivos para desagradar os antigos fãs. Esse é o álbum que marca a chegada em grande estilo de Patrick e Dan (e, porque não, de Danger  Mouse) ao topo.


2001 | EL CAMINO (Deluxe Edition)

CD 1

01. Lonely Boy
02. Dead And Gone
03. Gold On The Ceiling
04. Little Black Submarines
05. Money Maker
06. Run Right Back
07. Sister
08. Hell Of A Season
09. Stop Stop
10. Nova Baby
11. Mind Eraser

CD 2 | LIVE

01. Dead And Gone
02. Gold On The Ceiling
03. Howlin' For You
04. Lonely Boy
05. Monster Maker
06. Next Girl (
07. Run Right Back
08. Sister
09. Tighten Up

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